sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Contos do Rock Gaúcho - Capítulo "J" - Episódio 1 - Indo para clínica com Júpiter.

Contos do Rock Gaúcho - Capítulo "J" .
Júpiter Maçã é um que sem dúvida precisa de um capítulo inteiro nos Contos do Rock Gaúcho, uma figura enigmática e indecifrável, ele é inteligente, maluco, talentoso, e você nunca sabe quando e se ele está falando sério ou tirando uma baita onda. É uma linha tênue entre a loucura e a genialidade. Parece londrino, mas é bossa nova ou usaria sunga de crochê, como na capa do disco Araçá Azul, é isso? (Disse isso numa entrevista), também é Júpiter Apple, Apfel, Manzana e talvez até mangá. Em suas próprias palavras.
Sóbrio ou totalmente de ébrio ele é único, com sua voz quase britânica(voltou assim de Londres) que parece gay, mas tira onda disso. Ele é o roqueiro mais 24 horas por dia que já vi e não há Osvaldo Rock Vecchione que chegue perto.

 Capitulo "J" - Episódio 1 -  Indo para clínica com Júpiter.

    Desde que conheço Júpiter Maça, quando ainda era Flávio Basso, ele sempre foi mais HI do que LOW. Não sei se posso dizer que ele tem problemas com bebida e com a falta dela, pois sempre bebeu horrores para o padrão de muitos. Já nas gravações de seu disco "A 7ª  Efervescência", por exemplo, era 1 garrafa de cachaça por dia, isso num dia sóbrio, então ele sempre teve várias pessoas e amigos a sua volta preocupadas com relação a isso. Mas vai saber se ele seria o Júpiter que conhecemos sem a Brasileira cachaça, tenho minhas dúvidas.
Ele mesmo sob forte efeito do álcool é um cara inteligente e escorregadio, difícil de pegar, sempre esperto e gozador mas ao mesmo tempo cool e sério. Alguém tão louco como Rogério Skylab, parece sem graça e burro perto dele e mesmo Júpiter estando completamente alcoolizado e só com um bongô como instrumento.
Na época dessa estória, Júpiter já preocupava até o mais louco dos seus amigos roqueiros, sempre tinha alguém querendo levá-lo pra clínica ou com essa preocupação. Era um dia de sol e outono em Porto Alegre. Uma amigo de longa data, aqui denominado por C. Mister, uma figura super magra de causar inveja a qualquer Mick Jaegger e sempre usava roupas super justas. Seria facilmente reconhecido como uma figura do rock e talvez até confundido com um dependente, justamente pelo fato da figura do rock e magreza estarem associados diretamente a algum vício. Embora isso realmente não represente a verdade, a sociedade e a gigantesca maioria associa esses fatores.
Então esse amigo encontra Júpiter num café, perto ou no Bairro Bonfim em Porto Alegre e começa a tentar convencer Júpiter. - "Cara seria legal tu te tratar, o lance da bebida, conheço uma clínica bem legal aqui perto, dizem que é ótima, vamos lá. Eu vou com você, te dar apoio." E Júpiter, só sorria
e balançava a cabeça parecendo concordar, pois ele é escorregadio e nunca diz um não batendo de frente com as pessoas.
E a conversa foi indo,  C. Mister explicando seus sentimentos de amigo e preocupação aonde terminou a conversa num abraço irmão. Ambos terminaram os cafés e cigarros e se levantaram , saíram abraçados. C. Mister diz: - " Vamos lá man, é por aqui". Crente da tarefa bem sucedida.
Júpiter estava vestido com um terno e calças pretas, óculos Rayban Wayfayer esverdeado, gola rolê e sapatos, bem inglês, bem sóbrio no visual mesmo. Parecendo até um intelectual.
Ambos chegam abraçados, e logo na entrada tem dois funcionários da clínica que já tinham sido avisados por C. Mister por telefone, que iria trazer um amigo para se tratar. Então eis que Júpiter toma a dianteira e fala primeiro com um dos funcionários dizendo. "Olá pessoal, viemos aqui pois temos um problema." Júpiter com o braço esquerdo em volta do ombro de C. Mister e a mão direita na altura da cintura apontando discretamente para C. Mister, de tal forma que dava a entender que seria C. Mister que estava com problemas. Fazendo ares de intelectual compreensivo, sorridente.
No entanto, C. Mister à medida que ia se dando conta ia ficando mais e mais inquieto, dizendo: "Não, não, não, é ele, é ele, fui eu quem veio trazer ele!" E Júpíter continuava abraçado, e levantava os ombros balançando com a cabeça sugerindo um "não" calmamente. O pessoal da clínica deve ter olhado e pensado e questionado, é o Rolling Stone ou o intelectual elegante? E logo foram pra cima de C. Mister abraçando-o e dizendo coisas como: -"Tudo bem tudo bem cara ,  mas então vamos conversar, vem aqui dentro, não tenha medo". E C. Mister cada vez mais apavorado com a situação fica mais e mais eufórico e negando. - "Não , não é , eu to dizendo!" O que convence ainda mais o pessoal de que é ele o cara está com problemas e não o Júpiter Maçã. Júpiter segue no teatro usando um expressão calma, branda e sorridente, e vai saindo de mansinho dando um tchau, finalmente acenando com a mão já na calçada. Seguindo em direção ao Parque Farroupilha que é no fim da rua, acende um cigarro e escapa caminhando lentamente com um sorriso tranquilo no rosto de missão cumprida, convencendo e enganando a todos mais uma vez. E quem vê, acredita mesmo.

Um comentário:

  1. Jupiter Apple fará muita falta mesmo. Acho bastante triste que o Brasil não tenha descoberto esse gigantesco artista que ele era, nem mesmo após sua morte.

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